domingo, 30 de setembro de 2007

Sou Sombrio

Não me percebes.
Nunca o farás...
Nem hoje, nem amanhã.
Nunca como eu te percebo a ti.
Nem o fazes tu, nem o faz ninguém!

Ninguém nota quando estou mal.
Ninguém vê quando preciso de apoio.
Uns mandam mais umas quantas pedras
Enquanto outros, como tu, simplesmente me ignoram.
Dizes que nunca vos conseguiria acompanhar? Em quê?
Ouso dizer que te acompanharia ao fim do Mundo,
Mas na verdade vós é que não me acompanhais a mim!
Dizes que sou tão dark?
Sou-o de facto,
Mas nunca entenderás o significado que me atribuis!
Não me conheces!
Não como eu te conheço já a ti,
Que te pergunto o que tens quanto te vejo em baixo.
Mas os sinais que eu transmito na minha tristeza
São invisíveis a toda a gente!
Não os vês! Nem hoje nem amanhã.
Assim como não os viste ontem...
Ninguém os vê!
No entanto quando me falas julgas que me percebes.
No teu fundo tens a certeza que não te entendo.
Acredita... ninguém te entende como eu
Ainda que aos teus olhos possa não o parecer!
Ainda que te pareça que não estou
Quando sou o único que te escuta...
Devo mesmo ser sombrio...
Camuflado nas sombras, passo uma vida
Sem que ninguém me dê valor.
Se morresse hoje certamente seria importante.
Todos se lembrariam de mim e chorariam
Sobre o meu leito final.
Certamente que me tornaria no jovem promissor
Que hoje ninguém vê.
Certamente que também tu sentirias aí a minha falta
Nem que fosse por uns segundos!
Mas isso não acontecerá.
Nem a morte quer nada comigo
E decerto não a irei eu procurar.
Não desistirei... Não penso em saída tão fácil.
Resistirei e renascerei das cinzas como uma fénix!
Ainda que ignorado por todos seguirei com bravura
E lutarei nem que seja só...
Morrerei de velho aos noventa e três anos...
Mesmo que contra vontade.
As decepções que apanho da vida
Não são suficientes para me fazer desistir.
Ignoro o meu futuro e as dúvidas estão lançadas
Como em momento algum da minha vida.
As certezas que tinha desapareceram
E as desilusões que apanhei do Mundo
Fizeram-me repensar o futuro.
Os caminhos que se fecham à minha frente
Fazem-me procurar novos caminhos.
Alguns bem longe do começo...
Gostava de ter algum apoio, alguma compreensão...
Mas como se vê em que estado estou?
Para todos e para ti, este foi apenas mais um dia
Na alegre e decidida vida que levo.
Sempre estive bem, porque estaria eu mal agora?
É tão fácil porem-me erros em cima,
Quando não fui eu sequer a errar,
Com a certeza que não me afectarão...
Mas olhem só!
Talvez eles me afectem.
Talvez um dia as críticas, o preconceito ou a indiferença
Me deitem abaixo.
Talvez não seja tão forte como sempre fui!
Talvez esteja a ficar fraco...
Talvez esteja a ficar cansado de tudo e todos.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O Mago

Vagueava pelo Mundo à procura de alguém. Não sabia bem quem mas sabia que quando estivesse perante esse alguém o reconheceria. Procurava-o há décadas, desde que lhe fora confiado um segredo que permitiria mudar o mundo, mas pressentia que o momento estava próximo. Os relatos de demónios da noite que apareciam mortos eram cada vez mais e ele sabia que o seu número era bem superior àquele que lhe chegava, escapando das garras do Deus Negro que certamente tentava camuflar as suas perdas.
Sim ele já tinha vindo! Disso ele tinha a certeza.
O que "O Mago" não sabia ainda era se ele tinha noção do destino que lhe estava guardado, e daí a urgência em o encontrar. Se ele não estivesse consciente do facto de ser o único com possibilidades de derrotar o Deus Negro então poderia tudo ser deitado a perder. E se estivesse consciente? Por muito que ele soubesse o que lhe esperava, nunca poderia cumprir os seus objectivos sem a sua ajuda. Era "O Mago" que detinha o poder para o ajudar. Era ele que detinha os conhecimentos para anular a poderosa magia que protegia o Deus Negro no seu covil, onde Ele se mantinha desde que A profecia foi ditada.
Ele sabia o que tinha de fazer e sabia que após o ter conseguido "O Escolhido" tinha o caminho livre para acabar com a Era das Trevas onde a noite trazia a morte aos menos incautos. O conhecimento fora-lhe transmitido pelo seu mestre assim como a este pelo mestre anterior e pelo anterior do anterior... Sabia que não seria fácil mesmo que encontrasse "O Escolhido" em tempo útil. Os perigos que os rodeavam eram muitos e não se ficavam pela magia e certamente que o Deus Negro já enviara os seus mais perigosos demónios para acabar com a única esperança de paz futura e caso aquele que "O Mago" procurava desconhecesse ainda o seu destino então este poderia ser apanhado desprevenido e então tudo iria por água a baixo.
"O Mago" aproximava-se de uma cidade no interior do reino depois de ter ouvido relatos de seres das trevas que tinham sido encontrados mortos perto dali há poucos dias atrás. Sabia que cada vez estava mais perto de o encontrar! Sentia-o...
Estava num bosque que rodeava a cidade de Oeste para o Norte e caminhava por um caminho aberto pelos viajantes que se aproximava da cidade vindo de Noroeste, quando se preparou para descansar e comer algum do queijo e do pão que ainda lhe restava e que era já muito pouco, não se preocupando no entanto muito com isso pois esperava que esta fosse a sua última refeição antes de chegar à cidade onde poderia comer uma refeição quente e restabelecer as suas provisões para a próxima viagem. Ainda era de dia mas todo o tempo era pouco, pois assim que o Sol se pusesse ele não estaria em segurança. Não que o Deus Negro soubesse o segredo que ele guardava mas simplesmente porque ninguém estava em segurança pelos bosques e florestas durante a noite. A segurança já era pouca nas cidades e nas casas quanto mais nos bosques. Se o atacassem certamente que se poderia defender, já o tinha feito, mas também poderia sair ferido, o que o obrigaria a perder um tempo precioso na sua procura.
Quando a noite se aproximou ele seguiu o seu caminho confiante em alcançar a cidade em breve mas mal o Sol deixou de iluminar a estrada onde caminhava, tapado no seu declínio pelas espessas copas das árvores do bosque, saíram-lhe ao caminho vários seres demoníacos. Mais do que alguma vez ele tinha visto juntos, e sabia que não era por acaso. Não! Aqueles estavam ali por ele. Ainda que desconhecesse o seu segredo o Deus Negro desconfiou da sua procura. Nada lhe escapava e certamente muito menos alguém que nas últimas décadas viajava incessantemente e que curiosamente nos últimos tempos teimava em viajar para onde se sabia terem morrido alguns dos seus soldados e então decidiu acabar com ele evitando assim complicações desnecessárias.
"O Mago" sabia que estava perdido. Era muito bom nas artes mágicas de combate mas não seria suficiente para as mais de duas dezenas de soldados do mal que o rodeavam, ainda assim estava decidido a levar com ele tantos quantos conseguisse. Com um movimento circular do seu bastão enviou uma onda de energia que afastou os seus atacantes alguns metros e lhe deu tempo para com uma enorme economia de energia rebentar a jugular a três demónios que se encontravam à sua frente enquanto com o seu bastão enviava um feixe de luz que perfurou o coração de mais um. Os seus adversários saltavam para cima se si decididos a acabar com ele o mais depressa possível e ele respondia com uma enorme perícia e uma rapidez, que a sua idade de certo não denunciaria, erguendo escudos e enviando feitiços mortíferos aos que o rodeavam.
Mais de dez tinham já caído mortos mas as sua energias começavam a escassear e ele lutava já debilitado quando, após um feitiço que deitou por terra mais três demónios de uma só vez, uma pancada o atingiu na cabeça e ele viu uma enorme luz. Estava tudo acabado! Mas antes de cair sentiu a presença que tanto aguardava e um grito de guerra acompanhou-o num longo período de inconsciência.
Muito mais tarde acordou e viu que se encontrava numa cama onde um velho o olhava e ao vê-lo acordar sorriu e disse:
- Descansa Mago! "O Escolhido" salvou-te a vida e agora estás seguro!


*O Escolhido

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Regresso à Escuridão

Regresso às pedras que me acolheram.
Regresso à caverna onde me recolho
Nas minhas reflexões.
Onde desiludido pela vida
Escrevo à luz ténue de uma vela.
A escuridão que se reflecte nas paredes de pedra
Contrastam com a luz que inunda o exterior.
Apenas à noite, quando o escuro se propaga
Para além da caverna que tomei como casa,
Me sinto bem e vagueio por florestas e jardins,
E frequento os mais belos palácios e monumentos,
E festas onde os anfitriões me recebem como rei.
Rio, bebo e como, escarnecendo do Mundo que me despreza
Mas depressa retorno ao meu buraco...
O Sol já nasce...
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