quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Entre o Certo e o Incerto

Numa encruzilhada da vida
Eis-me entre o certo e o não certo!
Entre o que desejo
E o que pretende ser a minha salvação.
O que desejo não é certo
E o que é certo
Não sei se desejo!
Tudo é incerto nesta dimensão que desconheço.
Receio estragar o que me envolve
Tentado colmatar o que me falta
Mas tudo o que desejo
É ter na alma o que me apraz
E não sei sequer se o que desejo
É o que me falta!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Passado em Mim

Carregando o mundo nos meus ombros,
Transporto-Te comigo para outro lugar.
Tento sair de vez dos velhos escombros,
Procuro eternamente a luz no Teu luar...
Na escuridão da noite encontro refúgio
Onde posso do Passado descansar.
Deixo o fardo que carrego num subterfúgio
E fujo... e corro... para a segurança do Teu luar.
Mas tarde ou cedo o encontro onde ele está,
Não o esqueço, não o largo, não consigo...
Tento seguir em frente mas ele está sempre cá!
Aquilo que sou reflecte-o e eu sofro só... Contigo!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Fechei o coração para reparações
E não mais voltei para o procurar.
Desconheço há muito as suas condições,
Pois esqueci o caminho para o encontrar!

domingo, 9 de dezembro de 2007

Saudade

É nestas horas de pura frustração
Que mais sinto a vossa falta
Para minha distracção!
Necessito de vós para voltar à maré-alta...
Horas com sabor a derrota
Acentuadas pela solidão em que me encontro,
Mas sigo persistente na minha rota
Cavalgando no Cavalo Preto que monto.
Pois sei que os quilómetros
Que no presente nos separam
São entre as almas meros centímetros
E a distância não será realçada
No futuro por vitórias que nos falharam.
O sucesso será alcançado no final da caminhada!

sábado, 1 de dezembro de 2007

O Anjo Negro

A taberna estava mal iluminada, apenas com a luz da lareira que ardia no meio da sala. A taberna ficava perto de um local onde as duas principais estradas do reino se cruzavam, e por isso estava sempre atulhada da mais estranha gente. No meio de toda esta variedade de pessoas ele ficava como queria. Ninguém o notava e ele podia ficar simplesmente a um canto escuro com o capuz do manto negro a ensombrar-lhe a cara, ainda que se alguém reparasse com atenção veria uns olhos a brilharem. Olhos vermelhos de pupilas fendidas, que nenhum humano partilhava. Olhos preparados para ver no escuro, pois a luz feria-os. Se pudessem ver a sua cara estranhariam também a sua forma delgada, as sobrancelhas em que as pontas exteriores apontavam para cima na diagonal. Mas nada disto os faria desconfiar que ele não era humano, a menos que vissem a sua dentição de caninos pontiagudos que sobressaiam dos outros dentes normais.
Ele percorria todos os caminhos da região e raramente ficava mais do que uma noite no mesmo sítio. Aliás, era de noite que percorria milhas e milhas, entre montanhas, florestas e campos. Conhecia todos os cantos das ravinas junto ao mar, todas as árvores das florestas do interior, todas as casas das grandes cidades. Conhecia toda a região porque a percorria desde que se afastara dos seres da sua espécie. De noite andava, enquanto de dia, encontrava um qualquer buraco onde a sombra se mantivesse durante todo o dia e descansava, pois a luz era-lhe incómoda. Não é que o destruísse ou que de alguma forma o aleijasse, mas dava-lhe uma estranha sensação de calor exagerado que era de alguma forma dolorosa. E a luz era também um incómodo para os seus olhos que viam melhor à noite. A luz directa do Sol ou de alguma forma reflectida ofuscavam-no e causavam-lhe dor.
O seu afastamento da sua comunidade foi uma consequência natural do seu estado. Ele nunca foi como os outros demónios da noite. Nunca percebeu a maneira como eles se traiam até a eles próprios, como nunca perdiam uma oportunidade de se sobressaírem perante o seu senhor nem que isso fosse o resultado da destruição de outros, fossem humanos ou mesmo demónios. Nunca gostara da sua hipocrisia, do seu cinismo e falsidade. A honra que lhe habitava a alma contrastava com a negritude da alma dos seus semelhantes.
A sua família era da mais alta estirpe. O seu pai tinha sido um importantíssimo soldado do mal e quando a sua carreira estava no auge e se preparava para ser promovido pelo Deus Negro a seu Primeiro General foi assassinado por um seu rival assim como toda a sua família. Só ele escapou pois as suas qualidades eram já significativas e o assassino, ou por medo ou por uma tentativa de lucrar com as suas qualidades, preferiu não entrar em confronto e antes seduzi-lo a ocupar uma posição elevada junto dele. O resultado foi uma cabeça cortada e o Deus Negro teve de arranjar um terceiro demónio para ocupar o lugar de Primeiro General...
A partir daí nunca mais conviveu com os seus e votou-se a uma vida nómada, destruindo todos os demónios que encontrava pela frente protegendo os humanos das suas maléficas acções. Nunca se poderia estabelecer junto aos humanos pois eles iriam sempre receá-lo e só por momentos se permitia a introduzir-se entre eles e passar um bocado no conforto de uma taberna. Momentos esses que já estavam a terminar. Depressa partiria para aproveitar a noite, logo após acabar o seu vinho e seguiria até às montanhas a norte onde passaria o dia nas antigas minas.


Os três seguiam na sua demanda após um leve pequeno-almoço, seguindo o seu caminho ainda de noite enquanto "O Mago" explicava mais uma vez a importância d"O Escolhido" para acabar com a Era das Trevas.
- Sim, eu sei que só eu posso acabar com o Deus Negro. Tenho aprendido bastante acerca disso e de como o fazer. O que eu ainda não sei é porque tu insistes em vir comigo. - Disse "O Escolhido" encolhendo os ombros perante as palavras que não lhe eram novas.
- Já vi que estás bem instruído. - Respondeu "O Mago" pacientemente - Mas diz-me: saberás onde encontrar o Deus Negro, quando a altura chegar? Imaginas por acaso que o caminho estará livre até lá chegares?
- Podem vir os demónios que vierem, que ele enfrentá-los-á. - Disse o velho - Tenho-lhe ensinado todas as técnicas que conheço e posso dizer que foi o melhor aprendiz que já tive. Isso aliado ao talento que lhe foi concedido...
- Não entendem... - continuou "O Mago" - não é a demónios que me refiro... é a magia! E da mais poderosa! Magia que apenas eu tenho conhecimentos para contornar!
Contou então a sua história, fazendo entender aos seus companheiros a sua importância para que a profecia se cumprisse. Continuava ainda no seu relato quando "O Escolhido" lhe cortou a palavra.
- Shhh! Sinto alguma coisa... Estão demónios nesta zona!
Foram seguindo com ele na liderança enquanto "O Mago" lançava um encantamento que lhes permitisse andarem sem serem ouvidos. Foram andando até chegarem à orla da floresta onde avistaram a alguma distância um casa e viram uma mulher jovem a sair disparada da porta para fora. Fugia com todas as forças que tinha mas foi facilmente apanhada por um de dois demónios que vinham calmamente atrás dela. "O Escolhido" saiu à sua ajuda mas antes de galgar a distância que o separava da mulher um outro ser apareceu. Um ser de manto preto surgiu do nada numa rapidez impressionante projectando os dois demónios vários metros e com grande agilidade desembainhou a sua espada, cortou a cabeça a um dos demónios que se tentava levantar e espetou de seguida a espada no peito do outro, cravando-o ao chão. "O Escolhido" ficou espantado com aquilo que se passou em milésimos de segundo. Aproximou-se do ser que ficou de costas para ele, com o capuz cobrindo-lhe o rosto, sentindo-o chegar enquanto embainhava a sua espada novamente.
- Quem é tu? - Perguntou "O Escolhido".
- Não vais querer saber!- respondeu o outro enquanto se preparava para sair dali.
- Sim, quero... - disse ele enquanto lhe cortava o caminho.
Levantado levemente o rosto para olhar o humano sob as sombras do seu capuz o ser perguntou:
-Por mais estranho que eu te pareça, juras que não te virarás contra mim? Não me apetece lutar com quem não merece...
Estranhando a pergunta o humano respondeu:
- Juro-o! Qualquer um que combata demónios é meu aliado!
- Tenho os juramentos dos humanos em boa conta... - disse o ser, e retirando o capuz continuou - Podes-me chamar Anjo Negro, pois demónio negro não serei jamais!
"O Escolhido" estremeceu quando viu as suas feições e a sua primeira reacção foi a de levar a mão ao punho da sua espada, mas depois lembrou-se do juramento que tinha feito e lembrou-se que por mais estranho que pudesse parecer aquele ser tinha acabado de matar dois demónios e salvar uma mulher! Relaxou... e convidou o Anjo Negro a contar a sua história, o que este acabou por fazer, contente por o humano ter cumprido a sua palavra e ao que parecia estar preparado para o aceitar como era apesar de toda a estranheza que o envolvia.
*O Escolhido
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